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Paralelo

Um avião que cai

“É um avião caindo todos os dias e isso não gera comoção social”. A frase é de Samira Bueno, diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança, e reflete o sentimento de quem acorda todos os dias sabendo que uma tragédia vai ocorrer e percebe, olhando em volta, que poucos estão preocupados com isso. A consternação de Bueno refere-se ao Atlas da Violência 2018, divulgado na terça-feira pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) a partir de dados do Ministério da Saúde. O Brasil registrou 62.517 mortes violentas intencionais em 2016; são 30 homicídios a cada 100 mil habitantes, o que equivale a 30 vezes a taxa de assassinatos da Europa. A sociedade convive com o fato porque, segundo a diretora do Fórum, a grande maioria é composta por jovens negros e pardos, condenados à marginalidade, alijados das políticas públicas.

No Japão, um dos países mais desenvolvidos do mundo a taxa é de 0,3 homicídios a cada 100 mil habitantes. Na Coreia do Sul, 0,7; na Suiça, que enfrenta o Brasil na estreia da copa, 0,6. O que difere nosso país desses outros? Basicamente, educação. Enquanto aqui há defensores da redução da maioridade penal, da execução sumária nas ruas e da pena de morte, lá há investimento maciço em ensino, escola em tempo integral, proteção a crianças e adolescentes. Um pré-candidato à presidência chegou a afirmar, há alguns dias, que a superlotação nas cadeias brasileiras não é problema nosso, e sim, de quem foi parar lá.

Os registros de câmeras de segurança mostrando assaltos e assassinatos, que tanto indignam a sociedade, revelam apenas a ponta do iceberg. A geração “nem-nem” (nem estuda, nem trabalha) não surgiu do nada e nem foi gerada para ser naturalmente má; nasce em condições extremas sem acesso a ensino, saúde ou ocupação que não seja ver os dias passarem sem que haja amanhã. Afastada do sistema, fere a lei porque sequer consegue inclui-la no seu cotidiano, fazendo aflorar uma crueldade insana, cada vez mais bárbara. Perde-se o respeito pelo Estado, já que apenas a parte repressora e punitiva lhe é mostrada. Mas a Constituição é clara ao afirmar que a ninguém é dado o direito de desconhecer a Lei, e essa deve ser implacável. Há uma interpretação errada de que ao defender educação e respeito aos direitos humanos, os crimes devam ser relevados. De forma alguma. As forças de segurança têm que ter condições materiais e humanas para combater o crime com rigor: o bandido não teme a morte, mas deve temer a lei.

É necessário que a Nação tome consciência de que não há apenas um caminho para resolver o problema da violência no Brasil. Não adianta apenas invocar o olho por olho, temos que formar cidadãos, integrados à sociedade produtiva e com opções de ter uma vida digna. Caso contrário, vamos continuar matando mais do que países em guerra, como a Síria, por exemplo. O trabalho é longo, mas fundamental para voltarmos a viver em paz.

*Deputado federal por Alagoas

Jana Braga