Religião e política se misturam?
Normalmente, ouvimos dizer que religião e política não se misturam, mas seria isso verdade em um país que tem 87% de sua população declarada cristã?
Estamos vivendo um importante período em nossa democracia. Entretanto, infelizmente a palavra política tem perdido sua beleza e virado muitas vezes motivo de vergonha. Em contraponto, temos visto cada vez mais uma população jovem, mas cheia de responsabilidade social e, principalmente, com zelo e responsabilidade pelo que é público clamar por mudança.
Em meio a tudo isso, nunca se falou tanto da presença de grupos religiosos na política, reflexo de um cristianismo que tem como base o serviço e a doação ao próximo. Para se refletir isso de forma consciente, precisamos ter em mente que a presença desses grupos não pode ser vista como ameaça à democracia ou à laicidade do Estado. Na verdade, tudo isso reflete a dinâmica da cultura brasileira que tem na religião um importante papel na ordenação da vida e na construção do próprio Estado, onde é comum vermos Igrejas prestando serviços de saúde, educação e apoio à vida através de seus movimentos e pastorais.
É justamente dessa experiência pastoral e contato com os mais necessitados que nasce o desejo do cristão de fazer mais. Pois ao ver que, muitas vezes de forma voluntária, o cristão consegue exercer um verdadeiro papel político na sociedade através da promoção da vida, cresce nele a vontade de construção de um mundo melhor.
A Igreja católica, através do Papa Francisco, e de cartas da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), tem convidado os cristãos a exercer cada vez mais o exercício da cidadania, quer seja com o compromisso de acompanhar os eleitos em seus mandatos, ou incentivando o leigo a participar do processo eleitoral, como afirma o próprio Papa: “há necessidade de dirigentes políticos que vivam com paixão o seu serviço aos povos, (…) solidários com os seus sofrimentos e esperanças; políticos que anteponham o bem comum aos seus interesses privados; que não se deixem intimidar pelos grandes poderes financeiros e midiáticos; que sejam competentes e pacientes face a problemas complexos; que sejam abertos a ouvir e a aprender no diálogo democrático; que conjuguem a busca da justiça com a misericórdia e a reconciliação” (Mensagem aos participantes no encontro de políticos católicos – Bogotá, Dezembro-2017).
Assim, resta claro o chamado à população cristã para fazer desse momento difícil em nossa democracia, uma oportunidade de recomeço que tenha como norte a esperança da superação de tudo que aflige nosso povo, à luz do evangelho e a serviço do Reino de Deus. Que desse processo resulte sempre o bem maior do País, que está muito além de ideologias e interesses particulares.