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Paralelo

Falso ou verdadeiro

A Justiça Eleitoral de Alagoas e a Polícia Federal decidiram montar uma força-tarefa para combater crimes na internet, as chamadas “fake news” (notícias falsas). Tarefa difícil que vai requerer não apenas preparo técnico, mas vigília cotidiana para localizar os boatos, identificar os autores e puni-los. O mundo convive com esse pesadelo cibernético há algum tempo, como registrado nas eleições de Donald Trump, nos Estados Unidos, e Emmanuel Macron, na França. No caso de Trump, suspeita-se da participação de hackers vazando documentos; no caso de Macron, a situação seria mais grave: os documentos vazados eram falsos.

Há alguns dias fui abordado por um jornalista, na Câmara dos Deputados, que me fez uma série de perguntas descabidas. Perguntei onde obtivera tais informações e ele respondeu: “aqui”, apontando para o telefone celular. Sugeri que antes de sair inquirindo alguém sobre qualquer coisa, checasse a origem da notícia, o que em jargão jornalístico significa, apuração. E é isso que o eleitor brasileiro precisa fazer desde agora: confrontar dados, observar a veracidade e não se deixar pela primeira versão de algo que às vezes pode destruir reputações.

Há programas de computador extremamente eficientes, capazes, por meio de dublagem e sincronismo, de fazer pessoas dizerem o que nunca disseram. São os vídeos falsos que atormentam a todos. Uma vez postados, o estrago está feito. A reversão do boato nunca alcança o mesmo grau de profundidade, não dá para consertar o soneto.

Iniciativas como a da Justiça Eleitoral são importantes, mas o fundamental nesse processo todo é o comportamento do cidadão. Muita gente ao receber um vídeo, ou mensagem de áudio, passa adiante, mesmo sabendo que aquilo pode não corresponder a verdade. Lavam as mãos, achando que assim lavam a consciência. A possibilidade de estar cometendo um crime, não é cogitada.

A campanha, do ponto de vista de propaganda eleitoral, não começou ainda, mas o que vê nas chamadas redes sociais, é o prenúncio de que não será pacífica. Ninguém, ao que tudo indica, parece estar disposto a revelar virtudes, e sim, a apontar pecados. Muitos querem vencer não pelos seus méritos, mas pelo descrédito dos outros.

Num momento em que a política atravessa um momento delicado, onde a generalização impera no sentido negativo (“são todos iguais”), afundar num lodaçal de falsidades não é o caminho. Precisamos usar as redes sociais não para criar nulidades, mas sim para reforçar a ideia de que há gente que pensa a política como uma missão dedicada ao bem de todos.Vamos deletar o falso e apostar na correção.

*deputado federal e ex-governador de Alagoas

Jana Braga